Servidores contam como conciliam a carreira no serviço público com a pesquisa, o esporte, a música e a fotografia
O que têm em comum uma doutora em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, um atleta colecionador de títulos no jiu-jítsu, uma cantora com apresentações memoráveis no Teatro Amazonas e um fotógrafo com o olhar sensível para captar a beleza do cotidiano? Além dos talentos reconhecidos, são pessoas multipotenciais que abraçaram a carreira no Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região (AM/RR), sem abrir mão de trilhar caminhos em outras áreas de interesse.
Em homenagem ao Dia do Servidor Público, comemorado em 28 de outubro, os quatro aceitaram o convite da Coordenadoria de Comunicação Social (Coordcom) para compartilhar um pouco de suas histórias de vida. Mais do que “prata da casa”, são os “diamantes” que representam os 1.062 dedicados servidores do TRT-11, que trabalham incansavelmente por um serviço público de excelência. De acordo com levantamento da Secretaria de Gestão de Pessoas (SGPES), esse número inclui servidores efetivos, requisitados, removidos para o regional e ocupantes de cargos comissionados sem vínculo. Desse total, são 491 mulheres (46,23%) e 571 homens (53,77%). Confira os relatos.
Marie Ferreira
“A felicidade é o principal objetivo humano fundamental e na minha pesquisa pude demonstrá-la por outros ângulos”.
Doutora em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e com 19 anos de serviço no TRT-11, Marie Joan Nascimento Ferreira pesquisou a felicidade no ambiente laboral aliada à sustentabilidade. “A felicidade é o principal objetivo humano fundamental dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que nos torna mais humanos, refletindo o lado imaterial do bem-estar”, explica.
Natural de Manaus (AM) e graduada em Direito, a diretora da Coordenadoria de Apoio à 1ª Turma fala sobre a experiência de conciliar o trabalho e os estudos de pós-graduação. “Confesso que houve muitos dias de choro e finais de semana concentrada na pesquisa, mas tudo foi em busca de algo que sempre quis conquistar”, diz emocionada. Ela faz questão de salientar que a confiança da desembargadora Solange Maria Santiago Morais foi fundamental nessa conquista. Assim, conseguiu alinhar o horário de trabalho com as aulas do mestrado e do doutorado, sempre com as compensações devidas. O incentivo da desembargadora decana, de familiares e amigos deu o suporte necessário nessa jornada.
Em 2016, ingressou no Programa de Pós-Graduação em Direito Ambiental (PPGDA), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) sob a orientação do professor doutor Sandro Nahmias Melo, que é magistrado do TRT-11. Em abril de 2018, obteve o título de mestre em Direito Ambiental, com a dissertação “Inferências ao Princípio da Felicidade no Meio Ambiente do Trabalho”. No final de 2018, foi selecionada para cursar doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia (PPGCASA), da Ufam. As aulas iniciaram em 2019 e em 2022 defendeu a tese “Princípio da felicidade: uma proposta para a sustentabilidade e um meio ambiente laboral sadio e equilibrado”, sob a orientação do professor doutor Valmir César Pozzetti.
Em junho deste ano, Marie Ferreira proferiu a palestra “Felicidade: passado, presente e futuro”, promovida pelo Centro de Memória do TRT-11 (Cemej11). Na ocasião, falou sobre o bem-estar dos cidadãos aliado à sustentabilidade. A receptividade do público durante o evento animou a pesquisadora: “O compartilhamento da pesquisa é o principal objetivo do pesquisador e foi a melhor experiência que já tive desde que iniciei a vida acadêmica. Eu senti que a minha tese, a minha pesquisa, poderia, naquele momento, demonstrar a felicidade por outros ângulos, diante do debate que se acendeu após a palestra”.
Allan Farias
“O esporte, para mim, é um estilo de vida e uma poderosa ferramenta de inclusão social”.
Um colecionador de títulos no jiu-jitsu na categoria faixa preta pesadíssimo: campeão mundial, bicampeão brasileiro, hexa campeão amazonense invicto e atual campeão do jungle classic. Estas são algumas das conquistas de Allan Kardec Farias de Oliveira, servidor do TRT-11 há 32 anos. Agente da polícia judicial, esse manauara gigante é graduado em Educação Física e apaixonado pela prática de várias modalidades esportivas desde a adolescência.
Entusiasta do poder do esporte como ferramenta de inclusão social, ele tem experiência em projetos sociais voltados a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade em Manaus (AM). “O esporte entrou na minha vida na época colegial através dos professores de educação física. Eles eram senhores maduros e saudáveis e eu imaginei chegar na idade deles em boa forma física. Hoje é um estilo de vida que me traz inúmeros benefícios”, conta o atleta. Ele começou no futebol, enveredou para o karatê kiokushin até se encontrar no jiu-jítsu. Já participou de diversas competições, dentre as quais três campeonatos mundiais, sendo que foi vice duas vezes e na terceira conquistou o título de campeão mundial.
Para Allan Farias, a conciliação entre a carreira de policial e a prática de esporte só traz benefícios, tendo em vista a necessidade de estar bem fisicamente. “Somos responsáveis pela segurança de autoridades do alto escalão do poder Judiciário federal. A presença de um policial estando bem fisicamente transmite uma imagem muito positiva da Instituição. E nos cursos e treinamentos dos quais participamos, o condicionamento físico faz toda a diferença no resultado final. A mesma preocupação que o policial deve ter com equipamento tático, deve se estender também para o cuidado com sua saúde. Na nossa atividade policial não cabe sedentarismo e nem desleixo com a saúde”, aconselha.
Laís Reis
“É por meio da música, do cantar, que eu supero meus medos, me desafio e me transformo”.
Com oito anos de serviço no TRT-11, Laís dos Reis e Silva é a voz que encanta o público nas apresentações musicais que se tornaram marca registrada dos eventos do tribunal. Na posse dos dirigentes do biênio 2022/2024, ela interpretou o Hino Nacional no Teatro Amazonas. A servidora com talento para a música conta quem deu o “empurrão” inicial para que superasse a timidez e soltasse a voz em público. “Meu chefe, o desembargador Audaliphal, foi quem me convidou a cantar em público nos eventos do TRT-11, lá em 2016, depois de me ouvir cantarolando desavisada enquanto eu trabalhava nos processos no gabinete”, relata a manauara, que morou parte da infância e adolescência em Boa Vista (RR).
A assessora-chefe do gabinete do desembargador Audaliphal Hildebrando da Silva aceitou o desafio, apesar da relutância inicial. Diz que, sem exagero, se tremia da cabeça aos pés e cantou de olhos fechados. Mesmo nervosa, sua apresentação foi elogiada, o que a incentivou a cantar em outros eventos no tribunal e fora dele. De 2019 a 2021, estudou canto na Escola Interarte. Lá, também teve aulas de teatro musical voltado à interpretação no palco. Desde 2022, passou a estudar canto no Studio Belcanto, sob o método Belting Contemporâneo, baseado na fisiologia da voz. Isso a ajudou a expandir os gêneros musicais que consegue cantar como Soul, Belting, R&B, Pop, além de MPB. Mais recentemente, iniciou estudos de canto lírico.
Laís Reis se emociona ao lembrar de algumas de suas apresentações no Teatro Amazonas. Em 2021, participou do concerto Um Presente para o Natal, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, e se sentiu presenteada com a personagem Senhora Meio-Dia. Em 2022, foi solista no concerto musical Cats, produzido pela companhia Belarte, no qual cantou Memory. No final de 2022, interpretou I dreamed a dream, do musical Os Miseráveis, apresentado em forma de concerto com o coro do Studio Belcanto.
Em 2023, encarou dois novos desafios: cantou e dançou ao vivo no espetáculo de jazz musical Moulin Rouge e participou do Divaland, na série Encontro das Águas, ao lado de talentos femininos da terra. “Pisar no palco do Teatro Amazonas é uma emoção indescritível. Em primeiro lugar, porque a Laís de anos atrás, que assistia os espetáculos no Teatro Amazonas sentada na plateia, nunca pensou que um dia pisaria no palco como artista”, diz.
Disciplinada, conta como concilia carreiras tão distintas. “Para ser sincera, não é nada fácil! Ambas demandam bastante tempo e dedicação; demandam estudo contínuo. A melhor forma que encontro para conciliar é organizar os horários certinhos para cada atividade. Apesar da correria, a única certeza é que tudo dá certo no final”. Ao mesmo tempo, se considera uma pessoa de sorte por contar com o incentivo do desembargador Audaliphal Hidebrando e dos colegas do gabinete. E arremata: “A música esteve ao meu lado desde o início no TRT-11 e, assim, cantarolando, seja para mim mesma, seja para o público, sigo desempenhando e desenvolvendo meus caminhos profissionais e pessoais”.
André Lima
“A fotografia é pródiga em captar essa faceta do mundo em que vivemos em suas diversas formas”.
Captar a beleza no cotidiano através de uma lente fotográfica. Esse é um dos talentos de André Costa de Lima, servidor do TRT-11 há 20 anos. Amazonense de Manaus, ele é analista judiciário lotado no gabinete da desembargadora Eleonora de Souza Saunier. Profissional do Direito, é autor de três das 12 fotos selecionadas pela Comissão Julgadora em um concurso fotográfico para o calendário do TRT-11 de 2018, com o tema “Diversidade Amazônica”. Na ocasião, conquistou os prêmios do segundo e terceiro lugares. No ano seguinte, novamente foi um dos vencedores do concurso fotográfico do calendário de 2019, sob o tema “Pontos Turísticos – Amazonas e Roraima”.
O contato com a fotografia nasceu do interesse pela arte visual. “Sempre fui um cinéfilo, então a arte visual sempre esteve presente na minha vida de alguma forma. Contudo, por volta de 2015, enquanto estava na cidade de Salvador, na Bahia, um amigo, fotógrafo e museólogo, começou a me expor ao mundo da fotografia, enquanto mostrava o básico da arte”, relata. Nessa época, ele chegou a acompanhar a Festa da Nossa Senhora da Boa Morte, no município de Cachoeira (BA). A mescla da tradição católica e cultura africana, tão intrínseca da região, foi grande motivadora do seu início na fotografia. A partir daí, passou a acompanhar e se inspirar em alguns fotógrafos renomados como Sebastião Salgado, Pierre Verger e Araquem Alcantara.
O servidor do TRT-11 fez curso, comprou livros técnicos e artísticos, além de investir em equipamentos fotográficos, como uma câmera melhor, lentes e outros acessórios. “Embora exista uma tendência a se valorizar a questão técnica, acredito ser importante apurar e trabalhar o olhar fotográfico e isso envolve estar exposto ao mundo da fotografia, bem como outros meios artísticos”, pondera. Assim, vem treinando o olhar, aprendendo e praticando.
Além dos dois concursos fotográficos do tribunal, participou de outros locais e nacionais, experiências que considera enriquecedoras. Também procurou expor suas fotografias em sites especializados, nos quais obteve boa repercussão. Ao analisar a conciliação entre o trabalho na área jurídica e a fotografia, ele entende que são áreas com pontos de conexão: “Aparentemente, pode-se pensar não haver relação entre a área jurídica e a fotografia. Mas há pontos de contato entre elas. O Direito do Trabalho, por exemplo, sendo um direito social, permite lançar o olhar humano voltado para a realidade do trabalhador. A fotografia é pródiga em captar essa faceta do mundo em que vivemos em suas diversas formas. Essa intersecção permite que se amplie o olhar fotográfico para a realidade em que se vive, na forma da fotografia documental e cultural, por exemplo”, finaliza André Lima.
Coordenadoria de Comunicação Social
Texto: Paula Monteiro
Arte: Thaís Mannala
Fotos: acervo pessoal