O Dia Mundial da Água foi celebrado durante seminário realizado nesta quarta-feira (22) na Câmara dos Deputados. A iniciativa do debate foi da deputada Erika Kokay (PT-DF), em parceria com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e a Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), que também promoveram encenações e manifestações em defesa da água.
Participante do evento, o filósofo Leonardo Boff citou os problemas mundiais em torno da água – como escassez, disputas fronteiriças e exploração econômica por meio de multinacionais – e defendeu um grande consenso internacional em torno do tema.
Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Célia Xakriabá lembrou os problemas que os povos indígenas têm passado com a contaminação da água
“Nenhuma questão hoje é mais importante do que a água. Dela depende a sobrevivência de toda a cadeia de vida e, consequentemente, a solidariedade social e a cooperação. É o elemento que pode ser a base para um pacto social mundial que não existe ainda e é urgente que exista. Da forma como tratarmos a água, dependerá, em parte, o futuro da vida no planeta”, salientou.
Povos tradicionais
Leonardo Boff elogiou os movimentos sociais, como o Movimento dos Atingidos por Barragens, que não se restringiram aos riscos de rompimento de barragens e também denunciam os perigos da “privatização” da água e do deslocamento forçado das populações, sobretudo os ribeirinhos e povos tradicionais.
A agricultora familiar Maria José, por exemplo, contou os riscos ao rio Formoso, no oeste da Bahia, região de expansão do agronegócio. “Esses grandes empreendimentos tiram o nosso sossego. Em pleno período de pandemia, nós passamos por vários assédios e violações de direitos. As empresas barrageiras começaram a chegar a Coribe e Jaborandi com projeto de represar o nosso rio, construindo um muro de 37 metros e alagando uma área de mais de 500 hectares. Ao longo do tempo, eles vão mudando o nome das empresas, porém, o projeto é o mesmo, de apropriação de nossas terras e de nossas águas”, acusou.
A deputada Célia Xakriabá (Psol-MG) também citou conflitos recentes envolvendo os indígenas. “Os Yanomami estão passando sede e passando fome porque eles têm o território contaminado, as águas contaminadas, os peixes contaminados: 70% das crianças Yanomami estão com as vidas condenadas pelo mercúrio. No povo Guarani-Kaiowá, as mães têm os filhos contaminados ainda no útero pelo envenenamento”, disse a deputada. “Se as pessoas, inclusive no Congresso Nacional, não se sentem sensibilizadas porque não estão sujeitas a morrer pelos conflitos territoriais e pelo conflito das águas, nós vamos morrer por algo comum, que é o veneno que chega às nossas mesas”, sentenciou.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) disse que a Câmara está atenta ao tema. A Casa analisa a proposta (PEC 6/21) que inclui o acesso à água potável na lista de direitos e garantias fundamentais da Constituição.
“A questão climática, o manejo das lavouras, o uso de agrotóxicos e todo esse modelo de exploração da natureza acabam prejudicando enormemente a água para o consumo humano. Trabalhar o manejo de ecossistemas, protegendo as nascentes e garantindo que o saneamento e o acesso à água potável sejam percebidos e assegurados como direito humano, é a missão nesse dia em que celebramos o direito à água no Brasil e no mundo”, afirmou.
Data comemorativa
O Dia Mundial da Água foi criado na Eco-92, a conferência da ONU sobre meio ambiente realizada no Rio de Janeiro. Para este ano de 2023, a ONU sugeriu o tema “Acelerando mudanças: seja a mudança que você quer ver no mundo”, com foco em consciência sobre o uso racional da água. O Brasil tem 13,7% dos recursos hídricos do mundo, mas enfrenta problemas crônicos de desperdício e de desigualdade na distribuição de água.
Reportagem – José Carlos Oliveira
Edição – Ana Chalub