13/12/2023 – 17:50
Mário Agra / Câmara dos Deputados
Mauro Vieira falou à Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse nesta quarta-feira (13) que a reunião entre os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Mohammed Irfaan Ali, dificilmente resultará em um acordo, mas é importante para estabelecer a negociação entre os dos países.
Os dois presidentes vão se encontrar nesta quinta-feira (14) em São Vicente e Granadinas, no Caribe, em uma cúpula diplomática negociada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por líderes caribenhos. A Venezuela reivindica a região de Essequibo, rica em recursos naturais e que pertence à Guiana.
“Eu achei até que o presidente da Guiana podia não ir, mas acho que foi um gesto de boa vontade, de ir de conversar. Ninguém espera sair de lá com tudo resolvido, não será assim, mas é um importantíssimo passo no sentido do entendimento”, disse Vieira.
O chanceler brasileiro participou de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional para falar de temas diversos da agenda internacional. A disputa Venezuela-Guiana foi um dos assuntos que dominaram o debate, que foi proposto pelos deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Caroline de Toni (PL-SC) e Carla Zambelli (PL-SP).
Mario Agra / Câmara dos Deputados
Barbosa: “Foi um desprestígio para as relações comerciais entre o Brasil e Argentina a não ida do Lula à posse do Milei”
Brasil-Argentina
O ministro também foi questionado sobre a relação entre Brasil e Argentina durante a presidência de Javier Milei, que tomou posse no domingo. O assunto foi levantando pelo presidente da comissão, deputado Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), e pelo deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES). Para este, a ausência de Lula na posse de Milei pode manchar as relações bilaterais. O governo brasileiro foi representado por Mauro Vieira.
“Foi um desprestígio para as relações comerciais entre Brasil e Argentina a ausência do Lula na posse do Milei, tendo em vista o simbolismo que tudo isso representa”, disse Evair Vieira de Melo.
Para o chanceler, as relações entre os dois países não devem ser afetadas. “Tenho certeza de que há, dos dois lados, plena consciência de que a relação não pode ser deixada de lado”, disse Vieira. Ele afirmou ainda que, por deferência do governo argentino, foi o primeiro estrangeiro a cumprimentar Milei logo após a posse, antes dos demais chefes de estado presentes, como o rei da Espanha, Felipe VI.
Conflito na Palestina
Durante a audiência, o ministro também foi questionado sobre a posição brasileira no conflito Israel-Hamas. O deputado General Pazuello (PL-RJ) perguntou por que o Brasil não reconhece o Hamas como um grupo terrorista. “Quem comete atos terroristas é terrorista”, disse Pazuello.
O chanceler afirmou que o Brasil segue o que é determinado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Portanto, só passa a considerar um estado ou grupo como terrorista se a ONU aprovar resolução nesse sentido. “Isso nunca aconteceu com relação ao Hamas”, declarou.
O deputado Augusto Coutinho (Republicanos-PE) elogiou a atuação do governo na repatriação de brasileiros que viviam na região em conflito. “O Brasil foi um dos primeiros a negociar [a repatriação]”, disse. Vieira afirmou que, desde outubro, foram realizados 11 voos e repatriados 1.524 brasileiros.
Acordo comercial
Os deputados também mostraram preocupação com o futuro do acordo comercial Mercosul-União Europeia, cujas negociações se arrastam há mais de 20 anos. O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) avaliou que são poucas as chances de um acerto entre os dois blocos. “Eu mesmo julgo que talvez essa discussão já esteja a ponto de ser deixada de lado, haja vista tantas exigências feitas pela Europa”, disse.
O ministro Mauro Vieira afirmou que as conversas continuam e ele espera que um acordo seja fechado em breve. “Daqui até fevereiro, pelo estado da negociação, poderemos avançar e concluir esse acordo. Podemos ter esperança de concluí-lo ainda”, disse.
Reportagem – Janary Júnior
Edição – Geórgia Moraes