Jovens produtores agropecuários de todo o país estão preocupados com a sucessão rural, ou seja, a permanência deles no campo para “tocar” a propriedade da família. Eles trouxeram para a Câmara dos Deputados produtos da agricultura familiar para chamar a atenção para a necessidade de políticas públicas que tornem a zona rural tão atraente quanto as grandes cidades.
Frutas, verduras, mel, geleias e ovos, por exemplo, fazem parte do rol de mercadorias desses jovens agricultores. Gente como Wilians Santana, de 25 anos, que produz café no município de São Miguel do Guaporé (RO), região que tem um produto premiado internacionalmente e exportado para a Europa. Ele destaca a importância do avanço da tecnologia para a busca de uma produção sustentável.
“Hoje a propriedade rural é vista como um atraso. Mas a gente, enquanto juventude agricultora, está provando mais uma vez que queremos permanecer nas nossas propriedades fazendo a sucessão rural, que é dar continuidade ao trabalho que a nossa família vem exercendo”, disse. Segundo ele, mesmo estando numa pequena propriedade, o agricultor jovem faz uso da tecnologia para que se possa ganhar um espaço de produção em pequena quantidade. “Hoje, minha propriedade é de 2 alqueires, e nesses 2 alqueires eu tenho quase 9 mil pés de café”, disse.
Wilians também ressaltou as vantagens econômicas de permanecer no campo: ele tem uma renda mensal de R$ 3 mil, valor que, segundo ele, seria difícil em um emprego na cidade.
Políticas públicas
Membro de uma família de agricultores familiares, o deputado Carlos Veras (PT-PE) lembra que, até bem pouco tempo, as pessoas do campo eram criadas com uma visão de que o trabalho rural era um castigo que seria imposto a quem não estudasse. Ele dá exemplos de políticas públicas que seriam importantes para manter os jovens de hoje nas zonas rurais dos municípios.
“A gente precisa de estradas de qualidade, de internet, de assistência técnica, de apoio à produção e à comercialização, de crédito e de acesso à terra”, observou. Veras lembrou que a agricultura familiar entrega produtos de alta qualidade, mas ainda num pedaço de terra muito pequeno. “É preciso apoiar a organização das cooperativas, das associações de jovens, para poder ampliar a produção e garantir a sucessão rural e a soberania alimentar”, completou.
Pablo Valadares / Câmara dos Deputados
Para Carlos Veras, trabalho rural não é mais sinônimo de castigo
Jaciara Muller, de 32 anos, é de Montenegro (RS). Secretária-geral e coordenadora estadual de Jovens da Federação dos Trabalhadores Rurais do seu estado, ela trouxe erva-mate e outros produtos para mostrar aos deputados e salienta o anseio de muito jovens de continuar o trabalho da família no campo, mesmo quando os pais os incentivam a sair das propriedades rurais e ir procurar emprego nas zonas urbanas.
“Nós temos muitos jovens que vão até a cidade, se profissionalizam para voltar para o meio rural. Eles vão fazer suas faculdades e voltam para serem agrônomos, para serem veterinários, para poder tocar a propriedade. Eles buscam conhecimento para poder dar continuidade no que já vem acontecendo na sua propriedade, ou ainda eles querem introduzir coisas novas na produção”, disse.
Agricultura familiar
Assessora legislativa da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Adriana Fetzner apontou a ausência de políticas públicas para os jovens produtores rurais e afirmou que, quando elas existem, nem sempre o acesso é garantido. Adriana reivindica que esses jovens possam ter a escolha de trabalhar no campo e não serem obrigados a sair das propriedades por falta de oportunidades.
“Se nós não conseguirmos viabilizar a escolha deles de permanecerem no campo, o campo vai ficar esvaziado. Nós teremos só produção de monocultivo sem gente, sem emprego e sem alimento. Porque é a agricultura familiar que garante a soberania e a segurança alimentar no país e os jovens são o presente e o futuro dessa produção”, afirmou.
Além de ações junto a deputados e senadores, a reivindicação por políticas públicas para a permanência dos jovens no campo vai ser a tônica do Festival Nacional da Juventude Rural, marcado para 25 a 27 de abril em Brasília. O encontro terá discussões sobre vários eixos temáticos e terminará com uma caminhada pela Esplanada dos Ministérios.
Reportagem – Cláudio Ferreira
Edição – Roberto Seabra