Com uma visita técnica à comunidade Nossa Senhora de Fátima, localizada no rio Tarumã-Mirim, afluente do rio Negro, na zona rural de Manaus, uma comitiva de sete assessores parlamentares da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos cumpriu, na última semana, agenda de compromissos de viagem à capital amazonense. A delegação foi recepcionada pela Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa).
Os representantes participam do Congressional Learning Trip, programa promovido pela Fundação das Nações Unidas, para aprimorar a compreensão de funcionários-chave do Senado e da Câmara dos Representantes norte-americanos sobre projetos implementados em parceria com agências das Nações Unidas, como a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS).
De acordo com a Opas, o objetivo do programa no Brasil é apresentar o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS) e demonstrar o impacto do relacionamento entre o governo dos EUA, a Opas e o sistema das Nações Unidas no fortalecimento da prevenção, detecção e enfrentamento às ameaças de saúde, especialmente nas áreas de malária, doenças imunopreveníveis, vigilância, surtos e fortalecimento dos sistemas de imunização.
A viagem de aprendizagem acontece algumas vezes por ano e desta vez o destino foi Manaus, em razão do trabalho realizado pela rede municipal de saúde no enfrentamento às doenças transmissíveis, em especial em comunidades remotas indígenas e ribeirinhas.
A subsecretária municipal de Gestão da Saúde em exercício, Luciana Fabrício, que recebeu oficialmente a delegação no último dia 17/6, explicou que a visita foi organizada de modo a apresentar a operacionalização do SUS na área rural, com os desafios inerentes à dispersão populacional e às dificuldades de acesso às comunidades ribeirinhas sob as condições socioambientais próprias da Amazônia.
“Eles vieram conhecer como a saúde pública funciona no nosso município e ver de perto a nossa realidade na zona rural, com as dificuldades para levar assistência a essa população que vive distante da zona urbana”, disse a subsecretária, destacando o trabalho essencial das equipes de Saúde da Família, que são o elo entre a população e o sistema de saúde.
“Nós vencemos todos os desafios do regime de vazante e cheia dos rios, realizando visitas domiciliares a pé, de carro ou de barco, e com muito esforço, temos desempenhado essa tarefa com sucesso”, enfatizou Luciana Fabrício.
A diretora interina de Relações Externas, Parcerias e Mobilização de Recursos da Opas, Mariana Faria, explicou que a missão é estratégica porque os Estados Unidos, assim como outros países, a exemplo do Canadá e países da Europa, são importantes financiadores de projetos e ajudam nos avanços da saúde pública no mundo.
“Essa foi uma oportunidade para que esses funcionários do Congresso norte-americano pudessem vir até essa comunidade de Manaus conhecer como o apoio feito através de organizações multilaterais das Nações Unidas, como a Organização Pan-Americana da Saúde, impacta a vida das pessoas que moram em comunidades”, informou a diretora.
Mariana Faria disse que a expectativa é que os assessores possam, no retorno, conversar com seus congressistas – representantes do Congresso dos Estados Unidos – para que estes continuem advogando por mais envolvimento do governo dos Estados Unidos nesse tipo de projeto. “Esperamos que eles consigam mais apoio e mais recursos, para que a gente possa continuar a ajudar, por meio de cooperação técnica, a melhorar cada vez mais a vida das pessoas, como as dessa comunidade”.
Visita
Na comunidade Nossa Senhora de Fátima, onde se chega, a partir do centro urbano de Manaus, em aproximadamente 20 minutos de barco nesta época de cheia do rio Negro, os funcionários do Congresso dos Estados Unidos visitaram a Unidade de Saúde da Família (USF) local, acompanhados de representantes da Opas, da Fundação das Nações Unidas e do Ministério da Saúde brasileiro.
A unidade é referência para 3 mil pessoas de 5 comunidades da região e realiza serviços de Atenção Primária à Saúde como consultas, exames, assistência pré-natal, acompanhamento de hipertensão e diabetes e vacinação. No estabelecimento, a comitiva recebeu informações sobre o atendimento aos moradores da região, assim como as formas de registro e monitoramento de dados da população, feito por meio de prontuário eletrônico.
O grupo conheceu as instalações da USF e acompanhou o atendimento de rotina de imunização das famílias, especialmente das crianças e dos adolescentes. No momento da visita, a equipe técnica vacinou a pequena Emanuelly, de apenas 2 meses de vida. A criança foi levada pela mãe, a doméstica Ester Souza, para atualização das vacinas de acordo com o Calendário Nacional de Vacinação que prevê, aos 2 meses, as primeiras doses das vacinas Pentavalente (contra difteria, tétano, coqueluche e hepatite B), Poliomielite, Pneumocócica e Rotavírus.
O controle da malária, doença endêmica na região Norte brasileira, onde se concentram 99% dos casos da doença registrados no País, também foi objeto de interesse do grupo de visitantes. A delegação fez uma visita domiciliar para conhecer o uso do mosquiteiro impregnado com inseticida. O equipamento, distribuído gratuitamente pelo sistema público, funciona como barreira física e biológica para o Anopheles darlingi, vetor da malária.
Na casa, também foi feita a demonstração, pelos agentes comunitários de endemias (ACEs), da testagem rápida para diagnóstico de malária e para a contagem de G6PD, exame necessário para definir a viabilidade de prescrição de Tafenoquina para o paciente com resultado positivo.
Manaus é uma das pioneiras, no Brasil, na utilização deste medicamento, que pode reduzir de sete para três dias o tempo de tratamento dos casos de malária vivax, a mais comum na região. Os ACEs explicaram à comitiva que os remédios para malária são fornecidos exclusivamente pelo SUS e entregues aos pacientes com orientação de uso imediatamente após confirmada a doença.
Ao deixar a comunidade, no final da manhã do dia 17/6, para complementar as informações sobre como o município de Manaus atua no combate à malária, o grupo foi levado até a Base Fluvial de Endemias Enfermeiro Adenilson Torres, situada na zona Oeste de Manaus. A base flutuante funciona como marina para 11 embarcações utilizadas pelos agentes da Semsa nas viagens às comunidades da região assistida, e dá apoio aos ACEs no trabalho diário de busca ativa, diagnóstico, monitoramento do risco e acompanhamento de malária e outras doenças como a leishmaniose, nas comunidades do rio Negro e afluentes.
Saúde na Escola
Ainda na comunidade Nossa Senhora de Fátima, a delegação visitou a Escola José Sobreira do Nascimento, onde ouviu pais, alunos e professores sobre o programa Saúde na Escola (PSE), desenvolvido em parceria pelas Secretarias Municipais de Educação (Semed) e Saúde (Semsa), e responsável, entre outras ações, pelo reforço à imunização. O personagem Zé Gotinha, famoso no país como ícone da vacinação infantil, esteve na unidade escolar, onde foi apresentado aos visitantes.
A chefe da Divisão Distrital Rural (DDZ) da Semed Manaus, professora Rosa Denise, salientou o sucesso da parceria entre as áreas de saúde e educação e disse que as ações sistemáticas desenvolvidas no âmbito municipal têm tido impacto importante no crescimento da vacinação de crianças e adolescentes.
A professora citou a adesão do município, por meio das duas secretarias, ao programa Juntos pela Vida, do Ministério Público do Amazonas (MP-AM), que reconhece as escolas com índices elevados de imunização de seus alunos. “Nós temos a vacinação na zona rural despontando, com escolas que já ultrapassaram a meta”, comemorou, sublinhando a importância dos grêmios estudantis no trabalho de mobilização da comunidade escolar.
Parque das Tribos
No período da tarde, a delegação norte-americana conheceu a Unidade de Saúde da Família (USF) Parque das Tribos, localizada na zona Oeste de Manaus, referência para indígenas de mais de 30 etnias que residem na região, considerada um dos maiores bairros de indígenas não aldeados do país.
A unidade, de grande porte, com capacidade para realizar aproximadamente mil procedimentos por dia, oferece a carteira completa de serviços de atenção primária, e conta com agentes de saúde indígena como um diferencial. Os agentes atuam na mediação entre a unidade de saúde e a população indígena, como demonstração de respeito do sistema público de saúde municipal às particularidades de cada etnia e à cultura ancestral.
A delegação fechou a agenda com a Secretaria Municipal de Saúde com uma visita, na tarde do dia 17/6, à sede do órgão, na zona Sul da capital, onde o grupo recebeu mais informações sobre a assistência à saúde da população manauara também na área urbana. No auditório da Secretaria, a subsecretária municipal de Gestão da Saúde em exercício, Luciana Fabrício, relatou os principais desafios e conquistas da saúde municipal e, por meio de vídeo institucional, apresentou serviços de referência, como a saúde itinerante; a infraestrutura da rede municipal, com unidades de grande porte; resultados de gestão; e premiações nacionais e internacionais conquistadas pela Semsa nos últimos anos.
No total, a delegação cumpriu uma agenda de cinco dias de visitas a instituições e serviços de saúde em Manaus, além de encontros com autoridades locais, que se encerraram na última sexta-feira, 20/6.
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Texto – Andréa Arruda/Semsa
Fotos – João Viana/Semcom
Disponíveis em – https://flic.kr/s/aHBqjCj1gX