Atualmente, existem mais de 4 mil pessoas idosas contempladas pelo projeto EnvelheSer 60+
Foto: Lincoln Ferreira/Sejusc
Nunca é tarde para ser feliz. É esta a mensagem que a doméstica Valdemira Nunes, de 54 anos, procura passar, diariamente, aos filhos, irmãos e todos ao seu redor. Ela, que se assumiu lésbica há três décadas, encontrou no grupo de idosos Sempre Jovens, vinculado a Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), uma segunda família – que, em meio a aulas de zumba, mostra-se presente para além dos muros da igreja São Francisco de Assis, no bairro Cidade Nova.
Natural de Itacoatiara (distante 176 quilômetros de Manaus), Val, como é carinhosamente conhecida, casou aos 13 com um homem 20 anos mais velho – com quem teve quatro filhos. Dez anos depois, ela se assumiu para a família, que a apoiou incondicionalmente. “Para mim, [me assumir] foi muito bom. Foi melhor que viver com homem, acredita? (risos)”, diverte-se a itacoatiarense, que, atualmente, mora com a irmã, Zilda.
Val conta que nunca teve problema com a sua sexualidade. A ‘vergonha’, nas palavras da própria doméstica, estava associada ao fato de sair de um casamento heterossexual para se relacionar com uma mulher. “Tinha vergonha de chegar com os meus filhos e ‘abrir o verbo’. Foi então que meu filho mais velho disse: ‘Mãe, você pode ser o que for, mas é nossa mãe’. Eu me senti muito feliz quando escutei. Aquilo me suspendeu”.
Desde que se divorciou, Val se relacionou com três mulheres, chegando a viver por sete anos com uma. Hoje, ela está solteira – e muito feliz. “Eu me sinto muito realizada, feliz e na paz, porque, muitas vezes, a gente se relaciona com uma pessoa que é só dor de cabeça, só problema. Não quero isso, quero viver no amor e na tranquilidade”, ressaltou.
Apesar do bom momento pessoal, ela não se fechou para relacionamentos. Val está, somente, na procura pela pessoa certa. “Ainda estou atrás, batendo na mesma tecla (risos). Mas tenho esperança, e esperança é a última que morre. Nunca podemos perdê-la”, finalizou.
Sempre Jovens
Parte da felicidade de Valdemira está atrelada ao grupo de idosos Sempre Jovens. O coletivo, vinculado à Sejusc, reúne-se todas as terças e quintas-feiras, na igreja São Francisco de Assis, para socializar e praticar atividades físicas, como zumba. “Nós costumamos dançar até lá embaixo, mas tem vezes que vai [até o chão] e não sobe mais, né? A mulherada vai só até uma certa parte (risos)”, conta.
Além dos encontros semanais, o grupo procura se reunir, também, fora dos muros da igreja, combinando passeios a Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva e Ponta Negra. “Eles me acolhem, dão atenção e apoiam. Procuram sempre me ajudar, seja com um abraço ou uma conversa de conforto para a gente levar essa vida”, completou Val.
Atualmente, a Sejusc tem 70 grupos de idosos espalhados por todas as zonas de Manaus e pelo interior do estado, totalizando mais de 4 mil pessoas contempladas pelo EnvelheSer 60+ – projeto de apoio à rede de atendimento e enfrentamento à violência contra o idoso.
O bom momento de Val é perceptível a todos que convivem com ela, como, por exemplo, a irmã Zilma. “Desde que começou a frequentar o grupo, ela melhorou bastante o humor, a calma e a tranquilidade, ficou mais feliz. Eu me sinto bem, porque vejo que a Val está bem, ela se arruma e vai embora [para o grupo], uma coisa que não faz quando vai ao médico, às vezes, inclusive, nem vai”, entregou a irmã.
Para todos aqueles que, assim como ela, seguem em busca da felicidade, Val deixa uma mensagem: “Eu luto pela minha felicidade como uma mulher lésbica, e luto para que as pessoas como eu sejam felizes e realizem os seus sonhos. Nunca devemos perder a nossa fé, porque a fé é tudo de bom, e nunca devemos ter vergonha do que a gente é”, finalizou.
Sobre o EnvelheSer 60+
O projeto de apoio à rede de atendimento e enfrentamento à violência contra a pessoa idosa, EnvelheSer 60+, atualiza as políticas e assistência para o público.
Coordenado pela Secretaria Executiva Adjunta de Direitos da Pessoa Idosa (Seadpi), o projeto levou para o município os serviços de orientação jurídica; técnico de enfermagem; aula de hidroginástica; aulão de dança; linhas de crédito do Empreender no Envelhecer; a Gincana Violeta, que estimula o bem-estar do idoso por meio de brincadeiras e dinâmicas físicas; o ‘Capacidoso’, que reforça os mecanismo de auxílio e combate à violência contra a pessoa idosa para a rede de proteção local.
O post “Eles me acolhem”, diz envelhescente lésbica sobre grupo de idosos vinculado à Sejusc apareceu primeiro em Agência Amazonas de Notícias.