Com o tema “Priorize a amamentação: construindo sistemas de apoio sustentáveis”, a Prefeitura de Manaus intensifica as ações de educação em saúde na campanha “Agosto Dourado” nas unidades da Secretaria Municipal de saúde (Semsa).
Conhecido como alimento com padrão ouro de qualidade, o leite materno traz inúmeros benefícios para a saúde do bebê e da mãe. E um dos desafios das equipes de saúde para elevar os índices de crianças que até os seis meses de idade se alimentam exclusivamente com o leite materno, reside em condições que favoreçam o ato de amamentar. Nesse contexto, destaca-se o papel estratégico do apoio de todos para assegurar o aleitamento materno.
Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), indicam que, em 2024, das 10.504 crianças acompanhadas, 7.539 estavam sendo alimentadas exclusivamente com leite materno, o que corresponde a 71,77%. Este ano, o sistema mostra uma elevação indicando que, das 7.006 crianças em acompanhamento pela REDE primária de atenção à saúde, 5.126 estão em regime de aleitamento materno exclusivo, o que equivale a 73,17%.
São dados animadores, mas que podem melhorar ainda mais, segundo a chefe do Núcleo de Atenção à saúde da Criança e do Adolescente, Janaína Sá Terra. E nesse aspecto entra a REDE de apoio à amamentação, que PODE ser compreendida como um grupo de pessoas ou de empresas, escolas e outras instituições, que oferecem uma base emocional, ajuda prática e orientação às mães.
“É um espectro amplo de pessoas que envolve as parcerias, a mãe, os irmãos, avós, amigos, vizinhos, grupos comunitários e profissionais de saúde, que, ao se dedicarem a apoiar, têm uma função social importantíssima, sobretudo, nos primeiros dias, quando a puérpera está se adaptando a um NOVO ritmo de vida e precisa de ajuda, incentivo e cuidados. Ao contrário de uma visão muitas vezes romântica, essa é uma fase marcada pelo cansaço físico e mental por conta da criança que acabou de nascer”, observa Janaína Sá Terra.
Cenários
A médica de família e comunidade Fabíola Kelly Santos, que atua na unidade de saúde da Família (USF) Silvio Santos, no bairro Compensa, acentua que é necessário considerar as várias realidades das mulheres para ofertar apoio que gere um impacto positivo no seu cotidiano.
A médica observa que há um senso comum em considerar que somente as mulheres que são “mães de primeira viagem” precisam de apoio. Fabíola Kelly pondera que há muitas mulheres que não estão na primeira gestação e que enfrentam o desafio de, além dos cuidados com a criança que acabou de nascer, seguir com outros compromissos que criam um volume de trabalho expressivo e estressante, com impacto na continuidade da amamentação.
“Se considerarmos que, às vezes, essa mulher passa a madrugada amamentado, não dorme direito, tira pequenos cochilos, e que no dia seguinte, às cinco ou seis horas, mesmo que esteja de licença-maternidade, tem que dar conta da comida, da casa, das outras crianças, providenciando café da manhã, almoço e verificando a ida e volta dessas crianças da escola, iremos perceber que essa mãe está lidando com mudanças intensas em um curto espaço de tempo. E todo esse cenário poderá resultar na descontinuidade da amamentação”, acrescenta.
Apoio
A médica Fabíola Kelly explica que as equipes da Estratégia saúde da Família (ESF), da Semsa, apoia as mães por meio das visitas domiciliares, que podem ser realizadas pelos Agentes Comunitários de saúde (ACSs), enfermeiro, técnicos de enfermagem e médicos. Ao avaliar a usuária e seu bebê, as equipes observam a dinâmica do grupo social em que ela vive para verificar as estratégias que podem ser incorporadas à rotina de modo a facilitar a amamentação.
“Vamos até os domicílios para entender como está a dinâmica da família, o convívio no núcleo familiar para, a partir dessas informações, ofertar orientações para essa REDE de apoio. Observamos se essa puérpera tem alguém com quem possa contar, se há ajuda em casa para as tarefas domiciliares, nas atividades com os outros filhos. No caso de uma mãe de primeira viagem, avaliamos se ela tem apoio nas tarefas com esse filho que nasceu e com o qual ela ainda está aprendendo a lidar”, explica Fabíola Kelly.
Comprometimento
A enfermeira Ivone Amazonas, do Núcleo de Atenção à saúde da Criança e do Adolescente da Semsa, destaca que ao reconhecer que o leite humano é o alimento mais completo para o bebê, que fortalece o sistema imunológico, previne doenças e, consequentemente, reduz a mortalidade infantil, a sociedade toda precisa se comprometer com essa causa.
“É preciso considerar que amamentar é um ato que transcende a esfera individual, uma vez que gera benefícios que se revelam nos indicadores da saúde pública. Para a sociedade significa menos gasto com a saúde e crianças mais saudáveis e desenvolvidas. Para o planeta, redução de diminuição de lixos e tudo mais no meio ambiente. Menos árvores cortadas. Os benefícios se refletem em toda a sociedade e, por isso, precisamos de uma REDE de apoio consolidada”, destaca Ivone.
Ivone Amazonas acrescenta que, nesse contexto, o profissional de saúde tem um papel estratégico para envolver a família, a comunidade e demais atores sociais no objetivo de incentivar o aleitamento materno. Esse apoio se manifesta por meio de informações, suporte emocional e orientação prática às mães durante o pré-natal, o trabalho de parto e no pós-parto, que é o momento em que o bebê e a mãe voltam para casa.
No mercado de trabalho, as salas de apoio à mulher trabalhadora, que são estruturadas seguindo as orientações do Ministério da saúde, demonstram o engajamento das empresas para a continuidade da amamentação no ambiente laboral. A criação de um espaço para a amamentação, no qual a mãe possa realizar a extração e o armazenamento do leite para, depois, levá-lo para casa é uma medida que impacta, inclusive, no tempo de ausência das mães que trabalham.
“Mas a própria família PODE contribuir com medidas simples como providenciar uma jarra com água e colocar ao alcance dessa mãe, quando ela estiver amamentando, principalmente de madrugada. Esse é um dos melhores apoios que ela PODE receber da família, do parceiro, porque no momento que ela está amamentando, os hormônios estão se manifestando. E a ocitocina, que é o hormônio que faz o leite ‘descer’, resseca a boca da mulher. Ela sente muita sede, e precisa ser hidratada para compensar o líquido que perde e garantir a produção de leite”, salienta Ivone.
Outras demonstrações de incentivo se manifestam por meio de atos solidários e de respeito. É o caso da mãe que precisa amamentar em um local público, por exemplo. Apoiá-la e deixá-la à vontade para alimentar seu filho, que não tem um horário fixo para mamar, também é uma forma importante de apoio.
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Texto – Tânia Brandão/Semsa
Fotos – Divulgação/Semsa