Completam-se quatro anos do rompimento da barragem em Brumadinho – MG, que provocou a morte de 272 pessoas, com duas mulheres grávidas, e um impacto ambiental arrasador, com reflexos até hoje. Desastre, dizem alguns; tragédia, dizem outros. As entidades representantes das vítimas e outros movimentos sociais dizem diretamente: crime. E não há outra forma de as vítimas expressarem sua visão sobre a conduta das empresas, principalmente por ter havido um crime igual três anos antes, o rompimento da barragem em Mariana – MG, que havia matado 19 pessoas: pelos seguidos avisos e alertas; pelo clamor da sociedade para a prevenção dessas tragédias; pelo temor que marca a vida dos habitantes de tantos municípios, em Minas e no Brasil, que vivem à sombra ameaçadora de barragens em situação de risco.Hoje é dia de reunir, em manifestações púbicas, toda a solidariedade às vítimas da catástrofe socioambiental em Brumadinho e Mariana. É uma união simbólica de dois rios históricos: Paraopeba e Doce, suas populações e seus ecossistemas. Juntam-se a dor e a indignação de todo o Brasil na exigência por uma reparação justa dos danos e punição dos responsáveis. Temos que confrontar a impessoalidade jurídica da instituição, da empresa e do Estado com a realidade das pessoas físicas, suas dores, perdas e memórias.
Estive em Brumadinho, emocionei-me com a dor e o clamor de seu povo por justiça. Mas vi algo mais, que serve de lição para todos nós: o material duro da indignação sendo usado para construir esperança. A exigência de justiça como um ato de amor para que novas mortes não ocorram. E hoje, depois de um luto que se prolongou durante todo o período do governo passado, podemos selar um compromisso do novo governo de retomar a agenda de fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente para que a União, Estados e Municípios interrompam esse círculo perverso de tragédias anunciadas.
Há um passivo a resgatar. Um histórico de injustiças precisa ser superado para que possamos virar a página e colocar o povo brasileiro – em sua rica e maravilhosa diversidade – no centro do poder, como deve ser na democracia. Todos precisamos saber que não é possível conviver com a impunidade. Que possamos renascer de Mariana e Brumadinho, do Pantanal e da Amazônia, o povo preto nas favelas e os povos indígenas na floresta.
Que possamos começar, agora, outra história.
MARINA SILVA
Ministra de Estado do Meio Ambiente e Mudança do Clima