Representando 5% a 10% dos casos de câncer de mama, o fator hereditário requer atenção das mulheres que têm avós, mães e pais diagnosticados com a doença. O autoexame e o acompanhamento precoce são fundamentais para se descobrir o câncer em sua fase inicial, aumentando as chances de cura, alerta a oncologista clínica do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) que atua na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), Gilmara Resende.
Keila da Costa hoje é aposentada e tem 56 anos. Há 21 anos, descobriu um nódulo na mama direita enquanto fazia o autoexame. Ela tinha 35 anos quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama.
Keila passou pela quimioterapia neoadjuvante, para reduzir o tumor na mama direita e retirou todo o seio. “Foi muito difícil. Você não imagina passar pelo que eu passei. Fui pega de surpresa”, conta.
Dezessete anos depois, novamente fazendo o autoexame, Keila descobriu um novo nódulo, desta vez na mama esquerda. A aposentada teve que novamente enfrentar o tratamento contra o câncer: retirou parte da mama, fez quimioterapia, radioterapia e realizou a reconstrução mamária. Hoje está há dois anos em acompanhamento, fazendo exames anuais.
Mulheres jovens – O mês de outubro é o período de alusão às campanhas de detecção precoce do câncer de mama em nível mundial. Ocupando o primeiro lugar de prevalência em todo o mundo como o câncer mais comum nas mulheres, a doença também é diagnosticada em pacientes abaixo dos 40 anos de idade, ressalta Gilmara Resende.
Em alguns desses casos, aparece o componente genético. “Cerca de 10% de todos os casos de câncer de mama apresentam componente de herança genética, ou seja, são transmitidos de pai/mãe para os filhos. Para tal descoberta é fundamental conhecer a história de doenças prévias na família, como câncer de mama e/ou ovário em parentes de 1° e 2° graus”, afirma Resende.
Das síndromes genéticas de predisposição ao câncer, a síndrome de câncer de mama/ovário ou BRCA1/2 é uma das mais conhecidas. A atriz Angelina Jolie foi diagnosticada com essa síndrome.
“Descoberto em meados dos anos 90, os genes BRCA 1 e 2 regulam vários processos celulares no organismo, mas quando se encontram mutados, ou seja ‘defeituosos’, levam ao desenvolvimento de tumores malignos ao longo da vida”, explica a oncologista da FCecon.
Caso hereditário – Era dezembro de 2018 quando Karla Nobre sentiu um nódulo em uma das mamas durante o autoexame. Ela correu com a mãe, Keila da Costa, que sentiu o mesmo.
Hoje com 32 anos, a assistente administrativa conta que descobrir ter a mesma doença da mãe foi um susto. “Quando descobri, foi um choque, porque eu lembro de tudo por que minha mãe passou, por duas vezes ainda. Eu fiquei pensando tudo que ela passou eu iria passar. O que me confortava naquele momento era que, como ela conseguiu vencer, fez todo o tratamento, eu já tinha consciência que tem cura se tratar direitinho”, conta Karla.
Karla fez o tratamento de quimioterapia, retirou as duas mamas, fez reconstrução e agora segue em tratamento de radioterapia e quimioterapia oral.
Karla passou por um exame de mapeamento genético, que descobriu a síndrome de BRCA. O exame não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Há, no entanto, o Projeto de Lei nº 265/2020, na Câmara dos Deputados, que prevê a mulheres com histórico familiar de câncer de mama ou de ovário o exame de detecção de mutação nos genes BRCA1 e BRCA2.
União e força – Mãe e filha se apoiam desde os momentos de descoberta da doença. “Foi muito triste, eu sabia que ela ia sofrer muito. Assim como eu tinha passado uma situação difícil, ela ia ter que passar. Mas eu procurei dar força a ela. A gente continua ajudando uma a outra. Graças a Deus, meu tratamento terminou e estou só mesmo no acompanhamento, fazendo os exames todo ano. Eu creio que já estou curada, e ela, eu tenho certeza que também estará curada”, diz Keila.
Para Karla, o apoio da mãe é fundamental para enfrentar o câncer de mama. “O apoio dela foi muito importante, sempre teve do meu lado, sempre me ajudou, sempre me colocava pra cima quando estava triste, coisa de mãe mesmo”, comenta a assistente administrativo.
Orientação – A orientação das autoridades de saúde é que mulheres com casos de câncer de mama na família iniciem o rastreio dez anos antes de seus familiares. Ou seja, se a mãe teve câncer de mama aos 45 anos, a filha deve iniciar o rastreio aos 35 anos.